quinta-feira, 12 de outubro de 2017

O homem de preto

Na coxia de um dos bancos de três, vai um homem quase careca. Todo vestido de preto. Chama-se Mário. Não há de ter mais de 50 anos, mas senta-se como se todo um cansaço se apoderasse dele e ainda hoje é segunda. Olha para mim. Não sou fã de cruzar olhares. Mas o Mário olha uma e outra vez. Talvez eu não entenda.
O Mário tem 2 filhos, um rapaz e uma rapariga. Não importa saber de que idades são, nem Mário quer lembrar-se. As saudades custam tanto, que ao ver-me, em pé, num comboio cheio de lugares, Mário questiona-se se a sua filha, no Reino Unido, também anda tanto tempo de comboio. Se passa dias de pé, para outros se poderem sentar. Tem a certeza que sim. Foi essa a educação que lhe deu, de servir primeiro os outros. Cruza os braços de revolta, e conta os minutos para o Natal. O filho, na Austrália, não vem assim tantas vezes. Será que também passa muito tempo de pé nos transportes?! Sai na Azambuja e já chega a casa tarde. Hoje não é dia da chamada semanal com os netos, mas bem que podia ser, para animar um dia como segunda-feira. Semi-cerra os olhos, nos óculos pequeninos, lutando contra a vontade de dormir. Lutando contra a vontade de chegar a casa. Um dia atrás do outro, até ao Natal.

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