quarta-feira, 18 de outubro de 2017

A senhora do cabelo rapado

Não escolho o lugar antes de me sentar. Só preciso de espaço. Sento me perto de uma senhora com o cabelo curtinho. Rapado.
Será?
Não sei o que aconteceu. Não sei o que se passou. Não sei se escreva sobre o sofrimento de um cancro, do qual recuperou. Em que optou pelo cabelo curtíssimo, ainda que já comece a fazer frio. Não tem cara de nova, mas nunca sabemos o que esta merda faz as pessoas. 60 anos? Menos? Mais? Vai elegantemente bem vestida de creme, com sabrinas escuras. Com umas pérolas, como o quadro do Rembrandt, maquilhada. Não muito, só um pouquinho nos olhos. Podia contar os horrores que tem sofrido, as dores que tem passado. Mas não sei. Ouço falar, ouço contar. Mas não sei. A senhora no banco de trás fala de Jesus. Irónico, não é?!
Irónico quando não se cala com a conversa quando pode ter alguém à frente que acredita mais ou não acredita de todo.
Queria escrever hoje sobre uma senhora que gosta de ter o cabelo bem curto, apesar de já ser branco. Que sempre o usou assim, desde pequena. Desde que o pai lhe dizia que o cabelo curto não é para meninas. Mas era assim que se sentia bem! Curto curto. Que tentou deixar o cabelo crescer para casar, mas que o gosto e o hábito falaram mais alto. Que, como mulher independente que é, que veio a Lisboa tratar da sua vida. Consultas de rotina, compras, ou até mesmo trabalhar! Era esta a história que queria que soubesse, que lessem. Mas não sei. Não quero olhar, porque não quero imaginar o sofrimento. Apenas lhe desejo coisas boas, seja qual for a sua história.

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