terça-feira, 17 de outubro de 2017

O velho teimoso

Com o comboio apinhado, sentei-me onde havia lugar. Apanhei um grupo de três pessoas, duas senhoras e um senhor. Falava-se do fogo, e das chamas. É um prato do dia. Quer queiramos esquecê-lo, ele lembra-se-nos pelo cheiro que nos entre pelas narinas a dentro, pelos olhos adentro.
Mas o senhor continua e insiste em falar sobre ele. Sobre quando era mais novo e, na tropa, cozinhava massa com atum.
As senhoras olham para o infinito e comentam que nem os mais velhos se lembram de fogos nesta altura do ano.
E o senhor insiste nas suas conversas do passado, nas suas teorias antigas.
Enquanto que as senhoras comentam que seja onde for, o cheiro é imenso. Se perguntam de onde será. Como terá acontecido!
Não gosto de homens, velhos, que só querem falar sobre eles. Que impõem a conversa deles, a mentalidade deles. Tenta em vão fazer piadinhas, mas as senhoras contemplam tristemente o vazio e falam de que estamos velhos e a deixar partir os novos.
E o velho diz coisas sem nexo, que não me lembro nem importam.
Ouvem-me ao telefone, e perguntam-me onde já chegou o fogo. Grandes ou pequenos, velhos os novos, somos todos iguais perante estás situações.
Menos o velho. Que fala de coisas estranhas, coisas antigas. Coisas velhas.

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